sábado, 29 de setembro de 2012

O que é o Karma?



Qualquer pessoa com olhos para enxergar é capaz de ver que o universo revela que obedece a uma ordem inteligente e inteligível.
Não foi um capricho arbitrário que um dia criou o mundo. Não é o caos que o governa desde então. Há um verdadeiro significado, uma lei estrita, uma genuína coerência, há um movimento de evolução que vai da pedra à flor, do animal ao ser humano, através de níveis cada vez mais elevados de integração de vida universal.


Quando isso é entendido, também é possível compreender que o karma não é simplesmente uma lei qual se herda impressões prévias ou se produzem novas, ou uma justiça moral retributiva, mas também algo muito mais abrangente. Trata-se de uma lei eterna que tende a ajustar a ação individual à ação universal. 
Ela trabalha para o universo como um todo para manter suas incontáveis unidades em harmonia com seu próprio equilíbrio integral.


A retribuição apenas insere-se nessa atividade como um pequeno círculo concêntrico insere-se em um maior.  Os resultados da existência de cada pessoa, a herança do pensamento e ação de cada ser humano, precisam ser controlados para que, em última análise, obedeçam à ordem maior do cosmos. Cada parte esta ligada ao todo. Tudo, portanto, tende à suprema retidão. É realmente reconfortante perceber que o universo possui um equilíbrio tão significativo em seu núcleo secreto.


A interpretação esotérica do karma reconhece que um ser humano totalmente isolado é apenas uma fantasia da nossa imaginação, que a vida de cada pessoa está ligada com a vida de toda a humanidade por meio de círculos em constante expansão de amplitude local, nacional, continental e finalmente planetária; que cada pensamento é influenciado pela atmosfera mental predominante no mundo; e que cada ação é inconscientemente praticada sob influência da sugestão predominante e poderosa conferida pela atividade geral da humanidade. 

As consequências do que cada um de nós pensa e faz correm como um afluente para o rio maior da sociedade, juntando-se ali à agua de inúmeras outras fontes. Esse fato torna o karma resultante de todas essas associações mutuas, elevando-o, por conseguinte, do nível pessoal para o coletivo. Isso quer dizer que “eu”, como indivíduo, compartilho o karma gerado por todas as outras pessoas, enquanto elas compartilham o meu. Existe, no entanto, uma diferença entre a parte que nos cabe, no sentido de que “eu” recebo a parte maior dos resultados das minhas próprias ações praticadas no passado e uma porção menor das ações do restante da humanidade.


Daí minha afirmação de que nem todo sofrimento é merecido, mas, por outro lado, acontecimentos positivos também nos chegam como compensação. Mesmo que devido à interdependência da humanidade tenhamos que sofrer o que não merecemos, é igualmente verdade que em virtude dessa mesma interdependência podemos receber do bom karma geral benefícios que não conquistamos pessoalmente. Assim, essa operação coletiva do karma é como uma espada de dois gumes que corta dos dois lados: um deles é doloroso e outro agradável. A visão esotérica coloca uma nova face sobre a forma popular da doutrina e ela tem sido de um modo geral mantida em segundo plano, simplesmente porque as pessoas estão mais interessadas no seu bem-estar pessoal do que no bem comum...


Vivemos em comum com os outros, pecamos em comum e devemos ser redimidos em comum. Essa é a ultima palavra, talvez desalentadora, para aqueles que prejudicam seus semelhantes, porém animadora para os que foram prejudicados. Nessa perspectiva mais ampla, o karma nos faz sofrer pela sociedade como um Todo e alegrar-nos com ela. 
Por conseguinte, não podemos separar o nosso próprio bem-estar do bem estar-social. Precisamos escapar do isolamento interior e unir nossos interesses aos da Vida como um Todo. Não é preciso existir antagonismo entre classes, nações e raças, nem ódio e discórdia entre grupos diferentes, sejam esses grandes ou pequenos. Todos são, em última analise, essencialmente interdependentes. A separação deles é uma ilusão tão grande quanto a separação dos indivíduos, mas somente a filosofia e a história demonstram essa verdade. A situação em que todos nos encontramos hoje exige o reconhecimento dessa desafiadora verdade em prol do nosso interesse mútuo.


(Texto extraído do livro O que é o Karma? Autor Paul Brunton; Ed. Pensamento).

                                                                                                  (Paul Brunton)

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