sábado, 13 de outubro de 2012

Por que a Oração?


A vida do homem é uma vida de carências e necessidades, e portanto de desejos, não apenas em
seu físico e vital, mas em seu ser mental e espiritual.

Quando ele se torna consciente de um grande Poder que governa o mundo, Este aproxima-se dele através da oração, para a satisfação de suas necessidades, para auxílio em sua áspera jornada, para proteção e ajuda em sua luta. Sejam quais forem as imperfeições que possam existir na aproximação comum religiosa de Deus pela prece - e há muitas, especialmente essa atitude que imagina que o Divino seja capaz de ser propiciado, subornado, lisonjeado para a aquiescência ou indulgência pelo louvor, súplica e dádivas e pouco considera o Espírito com o qual se aproxima dele - contudo este modo de voltar-se para o Divino é um movimento essencial de nosso ser religioso e repousa  numa verdade universal.


Duvida-se freqüentemente da eficácia da oração e a própria oração supõe-se uma coisa irracional,
necessariamente supérflua e ineficaz. 

É verdade que a vontade universal executará sempre Seus Objetivos e não pode ser desviada por propiciação e súplicas egoísticas; é verdade do Transcendente que se expressa a si mesmo na ordem universal que, sendo Onisciente, seu conhecimento mais amplo deve prever a coisa a ser feita e não necessita de direção ou estímulo do pensamento humano; e que os desejos individuais não são e nem podem ser em nenhuma ordem do mundo, o verdadeiro fator determinante. 

Porém, nem é essa ordem ou a execução da vontade universal em conjunto efetuada pela Lei mecânica, mas por poderes e forças dos quais, pelo menos para a vida humana, não estão entre os menos importantes, a vontade humana, a aspiração e a fé.

A prece é apenas uma forma determinada dada a essa vontade, a essa aspiração e fé. Suas formas são muitas vezes cruas e não somente infantis, o que não é um defeito em si mesmo, mas criancice; contudo ela tem um poder e significado reais. Seu poder e sentido são colocar a vontade, a aspiração e a fé do homem em contato com a Vontade Divina, como a de um Ser consciente com quem podemos entrar em relações conscientes e vivas.

A oração ajuda a preparar esta relação para nos, primeiro no plano interior, mesmo quando ainda
exista lá compatibilidade com o que é mero egoísmo e ilusão de si; mas depois podemos avançar em direção à vontade espiritual que está por trás. Não é portanto a concessão da coisa pedida que importa, mas a relação em si, o contato da vida do homem com Deus, a permuta consciente. 
Em assuntos espirituais e na procura de aquisições espirituais, esta relação consciente é um grande poder; é um poder muito maior que nossa própria luta e esforço inteiramente autoconfiantes e proporciona um crescimento e experiência espirituais mais plenos.

Inevitavelmente, no fim, a oração ou extingue-se na coisa maior para a qual nos preparou, - de fato, a forma a que chamamos de oração não é em si mesma essencial, contanto que a fé, a vontade e a aspiração estejam lá, - ou permanece apenas para a alegria do relacionamento. 
Também seus objetivos, o artha ou interesse que procura realizar, torna-se cada vez mais
alto até que alcançamos a devoção, sem motivo, mais elevada, que é essa do amor divino puro e simples, sem qualquer exigência ou anseio.

Sabedoria de Sri Aurobindo
Seleção de Seus Escritos

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